meca intro: wagner olino
lucas pexão e marcilia britto, 2018
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quando crianças, somos fascinados por criaturas macabras, gosmentas, derretidas. personagens dos mais diversos formatos saltavam aos nossos olhos nas tvs, nos gibis, nas caixas de brinquedos , nas propagandas e nas embalagens de alimentos industrializados. desenhos e formas portadores de mensagens, normalmente acompanhando mercadorias, voltados para as crianças. quando crescemos, essas associações, realizadas por meio de personagens desenhados, vão se transformando, mas não sem deixar marcas em nossa memória. criaturinhas desempregadas, monstros inofensivos e mascotes fantasmas ficam perdidos no inconsciente dos adultos. essa massa de micróbios simbólicos, com olhinhos e bocas, é o principal material de trabalho do artista paulistano wagner olino.
depois de uma adolescência desenhando vilões de histórias em quadrinhos, com uma obsessão especial pelo alienígena simbionte de mente composta venom, wagner foi estudar arte na faap. em seu prolífico momento acadêmico, perveteu e castigou personagens de séries e de desenhos animados (power rangers, disney, etc), se destacando em salões de arte e chamando atenção de professores e galeristas. de volta a realidade, trabalhando exaustivamente como cenógrafo, no escasso tempo livre ele foi desenvolvendo seu próprio vocabulário visual, presente agora nas obras expostas nesta sexta edição do mecaintro.
partindo de materiais cotidianos, como canetinhas hidrocor, lápis coloridos e papéis comuns, wagner rabisca, distorce e derrete uma infinidade de personagens e formas, que podem ganhar peso em colagens ou serem transpostos para a pintura, por exemplo. entre os trabalhos, é possível perceber o artista avançando de um aglomerado grotesco, violento e obscuro, em direção a síntese, leveza e cores claras. wagner utilizou suas habilidades como cenógrafo na maior obra da exposição: um grande objeto luminoso, em arco, formado por carinhas tristes e felizes, alternadas. esse arco-íris bipolar é contornado por leds em degradês multicoloridos, com acabamento industrial, em contraste às linhas orgânicas das demais obras.
​fermentando em uma bolha relativamente desconectada de outros artistas com processos e questões similares às suas, hoje o trabalho de wagner olino se conecta ao fluxo do desenho mutante de nomes como gary panter, jaca e fabio zimbres, assim como a colagem trash de sesper e de tomas spicolli. na linguagem específica que emerge da obra de wagner, existe algo de divertido e ao mesmo tempo problemático. até com os personagens mais simpáticos, parece sempre ter algo de errado acontecendo com eles. mas, se existe algum tipo de narrativa entre as obras, ela é definitivamente fragmentada e capaz de se descolar dos impulsos originais de seu autor para operar no imaginário do espectador, trazendo lembranças à tona e discutindo aspectos bizarros e fascinantes das formas.
